E A C O E L H O

UM PRETENSO POETA

Textos

RIO DO SUL

Depois de mais de 50 anos morando nas cidades litorâneas de SC, entre o Litoral do Vale do Itajai e o Litoral Norte, acostumado com a toda abundante beleza da beira-mar, as circunstâncias me fizeram por a muchila nas costas e subir a serra do mar. Finquei moradia na cidade de Rio do Sul, também em SC e aqui também encontrei beleza para continuar pintando meus versos.

Rio do Sul é a cidade polo do Alto Vale do Itajaí, região formada por 28 cidades, todas de pequeno porte, carregadas de simplicidade e elegância sutil, cuja população varia entre 6 e 60 mil habitantes. É a maior delas e bem por isso tida como centro econômico desse pedaço deslumbrante da Bela e Santa Catarina.

Assim como Rio do Sul, toda a região está fincada na beleza do alto da Serra do Mar. Fica exatamente no trecho de elevação montanhosa da serra que se vai elevando um pouco mais, até chegar no planalto central, que em SC tem a cidade de Lages como polo representativo da região.

As elevações que circundam a cidade de Rio do Sul, forma uma cadeia de montanhas, donde brotam inúmeras nascentes de pequenos rios, esculpindo, caprichosamente, deslumbrantes cachoeiras, que se debruçam nos penhascos, compondo beleza e poesia, pintada pelo verde da Mata Atlântica.

Rio do Sul está em meio a toda isso, cortada pela BR-470, rodovia que se inicia no litoral, na cidade Balneária de Navegantes e vai cortando o estado de leste a oeste, até a divisa com a argentina.

Está bem próxima do pico da serra do Mar, onde estão as cidades de Urubici, São Joaquim, Urupema, etc, tidas como as cidades mais frias do Brasil. Aqui também é frio, bastante frio, não tanto quanto as cidades citadas, pois, estamos a cerca de 350 metros de altitude, (340 metros no centro da cidade), mas com pico de até 824 metros, onde está a Serra do Mirador, nascente do Rio Ribeirão das Cobras.

A temperatura média é de 18 graus, variando, no decorrer do ano, entre 5 e 30 graus o que permite o regalo do gostoso e aconchegante frio das montanhas e o calor confortante do clima tropical. Aqui, no inverno, a gente pode por lenha na lareira para queimar, escutando o estalar das labaredas que brilham como ouro e a vermelhidão das brasas encarnadas como paixão, ou passear de camiseta, bermuda e chinelo, pelas ruas e praças, quando chega o verão.

É entrecortada pelos Rios Itajaí do Sul e Itajai Oeste, em cuja convergência nasce o grande Rio Itajaí-Açú, que desce a Serra do Mar, desenhando o vale, ladeando diversas cidades, até desembocar no oceano atlântico, na cidade de Itajaí, passando antes por Blumenau, onde provoca constantes cheias. Rio do Sul também sofre com fortes enchentes, como ocorreu em 2011 e que arrasou toda a cidade, conforme mostrado nacionalmente.

As terras de Rio do Sul foram desbravadas principalmente por imigrantes Alemães e Italianos, vindos do Vale do Itajai e do Vale do Rio Tijucas, mesclada com Portugueses e somada a população indígena local, formando assim uma cultura ricamente variada. Hoje, já miscigenada, forma um conceito cultural extremamente abrasileirado, caboclo, com o requinte de uma comunidade formada de gente amiga, receptiva, de boa conversa, ordeira, trabalhadora e de extremo espírito de solidariedade.

Aqui ainda sobrevive a convivência social baseada na vizinhança, que se ajuda e partilha a fatura e a carência, bem do jeito do bem viver, comunitariamente. Por ocasião da grande enchente de 2011 essa cultura comunitária, mostrou sua força de reação e trabalho, permitindo ao povo Riosulense e de toda a região do Alto Vale do Itajai, a recuperação das cidades em tempo absolutamente recorde, fazendo com que em menos de um ano já não apresente, praticamente, nenhuma sequela da tragédia.

Teria muito mais para falar de Rio do Sul e da região do Alto Vale do Itajaí. Mas minha intenção era somente dizer, muito rapidamente, que estou replantando minhas raízes caboclas, caipiras, por aqui e que aqui estou encontrando inspiração suficiente para viajar no deslumbre da poesia que me rodeia. Seja no verde montanhoso que avista da minha varanda e que se estende até onde minha visão alcança, seja na lida do povo, cuja requintada simplicidade mantém a poesia dos tempos, entranhada mesmo na modernidade urbanizada de uma cidade de vanguarda.

Se já não tenho o deslumbre do mar, com sua imensidão infinda, o sussurrar permanente das suas ondas quebrando na praia infinitamente, tenho agora as montanhas caprichosamente desenhadas, pintadas de verde vida, emoldurando o céu, que parece mais próximo e que nas noites límpidas mostra a lua ainda mais soberba, mais brilhante, mais enamorada e ainda mais comadre dos amantes.
Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 17/06/2012
Alterado em 17/10/2013


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